quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Sátira

Sátira

 

É preciso ter coragem

E não ser vítima da modelagem,

É preciso um curta metragem

Executado em câmera rápida

Pra perceber que nessa viagem

O sistema de vida é uma sátira,

 

Tic-tac trabalhando

Tic-tac vai comendo

Tic-tac batalhando

Tic-tac vai andando

Tic-tac construindo

Tic-tac vai comprando

Tic-tac consumindo

Tic-tac vai banindo

Tic-tac trabalhando

Tic-tac deprimido

Tic-tac comprimido

 

Consumo de alimentos

Sem sumo, sem alento

Consumo de eletrônicos

Sem rumo do lixo crônico,

 

Este ciclo não é condizente

Nossos frutos sem nutrientes

Modificados geneticamente

Problemas nascem das sementes,


Existem muitas pessoas amáveis

Mas não há quem aguente

Quem são os responsáveis?

Quem são os delinquentes?


Poema de Antonio Montibeller

Ilusão

Ilusão

 

Queira ou não,

Todo primeiro encontro

É pura ilusão.


Verdadeira é a pessoa

Que independente das circunstâncias

Continuará segurando sua mão.


Poema de Antonio Montibeller


Leitura Corporal

Leitura Corporal

 

Alguém me olha incessantemente

Ora move pálpebras, lubrifica a lente

Tirando suas próprias conclusões

De vista, apenas de vista pontuou

Sobre minha pessoa sobre quem sou,

Descobrindo verdades ou meras ilusões

 


Mal sabe ela que a conhecerei

Quando abrir sua boca

Quando der seu primeiro passo

Quando sentar e cruzar os braços

Quando mostrar sua mente oca

E quando respirar fundo

Saberei do ego mais profundo

 


Diferentes jeitos de  pessoas

Personalidade no instinto ecoa

Revela fragmentos do íntimo

Como um pássaro que paira no ar

Paira simplesmente porque voa

Gestos que se revelam até o último

Pedaço de terra avistado da proa

Espero que de minha pessoa

Tenham capitado coisa boa. 


Poema de Antonio Montibeller

Despedida

Despedida

 

Agora sem beijos sem desejos

Despeço-me com apenas um abraço,

Pra começar a desfazer este laço

Que começou quando caminhávamos descalços,

 

Inocentes adolescentes desavisados

Agora desobrigados de compromisso

Ser omisso e deixar do vício de te amar,

 

Éramos meros Adolescentes

Entre surpresas de vida subjacentes

Cada um seguirá com seu barco

Com outros ventos neste imenso mar,

 

E pra quebrar esta forte aliança

Vou precisar de um novo mantra

Pra soltar esta nossa âncora

Antes de zarpar em alto mar. 


Poema de Antonio Montibeller

Aos Sete

Aos Sete

 

Para tudo que olho

É tudo novo de novo

O céu a água e o solo

Até o cisco no olho

Quem precisa de colo?

Vim dar o primeiro voo,

 

Fazer de um pequeno pomar

Uma floresta encantada

Sentir a liberdade de explorar

Pés na grama e depois na calçada

 

Ingênuo sentimento inocente

Atravessar o morro ao vento

Ver pequenos animais e pouca gente

Brincar de bola pipa catavento


A noite seguir para casa

Contando estrelas cadentes.

Quando criança vivia sorridente

Vivendo o eterno presente.


Poema de Antonio Montibeller

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Soldado Branco

Soldado Branco


Eu com jaleco branco imundo

Com esperança de curar o mundo

Na fila a menina triste diz que dói

Saudade do pai viajando em Ilinóis

A confiança a gente que constrói

Uma ponte de coração pra coração

Grande como a ponte Rio Niterói,

 

Chego perto logo me agacho

Ela chora e olha para baixo

Olho nos seus olhos me abaixo

Não quer ver mais ninguém

 

Enxugo suas micro lágrimas

O mundo num mico em lástimas

-As pequenas fadas choram pápricas

-Elas fazem mágicas e fica tudo bem

 

Como mago tiro a fita do vaso.

Num passo faço um lindo laço

Amarro no seu pequenino braço,

Menina, vai ficar tudo bem,

 

Trazendo alegria do doutor palhaço

Dobraduras de papel, um barco eu faço

Parecia um chapéu no seu lindo arco

No seu rosto um sorriso tem.

Meu bem

Fique bem

 

Vai ó vento vai

No alto morro eu quase morro com esse amor voraz,

Vai ó grande pai

Mostra o sentido do que foi sentido pelo capataz,

Vai ó vento vai

Sinto-me leve que me leve e diga onde vaz,

Vai ó grande pai

Abra caminho onde caminho sigo seus sinais,

Vai ó vento vai

Soprar o canto pra levantar o canto desses animais.


Em outra época

Com estopim na mão

Não sei bem certo

Se eu estava certo ou não

 

Com entorpecente a gente sempre sente,

Talvez fosse um sonho ou outra dimensão

Mas na vida que se repete eu era chefe

Capitão de batalhão

 

Eu com a farda imunda toda rasgada

Sentia um zumbido dentro do ouvido

Por causa do estrondo doutra granada

Cuturno imundo era o fim do mundo

O coração sentia bem lá no fundo.

Quero o fim da guerra, ó Imaculada!

 

Na mina a menina triste diz que dói,

Liberdade quando tínhamos todos nós

Amigos soldados presos nos anzóis

Da nossa grande pátria virei herói

Mas a falta de amor e piedade 

Se exalta no terror e nos destrói


No canto a menina aos prantos

Ah como eu queria mas queria tanto

Que tudo acabasse e a guerra vir a sucumbir

E a menina cantasse, e novamente vê-la sorrir

 

Vai ó vento vai

No alto morro eu quase morro com esse amor voraz,

Vai ó grande pai

Mostra o sentido do que foi sentido pelo capataz,

Vai ó vento vai

Me sinto leve que me leve e diga onde vaz,

Vai ó grande pai

Abra caminho onde caminho sigo seus sinais,

Vai ó vento vai

Soprar o canto pra levantar o canto desses animais.


Poema de Antonio Montibeller


O Palhaço

O Palhaço

 

Olhe pra você aí

Inserido no sistema,

Espero que você se contenha

Pois você não está em Viena

Tão pouco em Madrid,

Ou você segue ordens de alguém

Ou você está ordenando reféns.

E há ainda aqueles que ordenham.

 

Ou você é presa

Ou você é predador,

É preciso entender a manha

Usufruir de suas artimanhas

Como a destreza de um beija-flor,

 

Crucial momento frente a portas

Antes de escolher umas das rotas

Cobiçamos a encontrar uma prova

Algo que nos acalma e nos conforta

Para um caminho sem pólvora e dor,

 

Em debates damos voltas e voltas

Cansamos andando em círculos

Criando obstáculos entre amigos

E revoltas entre opiniões opostas,

 

A voz do povo contra o povo

Humanos contra humanos

Tornou-se normal o mundo insano

E todos ainda querem viver cem anos,

 

Pela embaixada da província

Na manchete ou tele notícia

Indagam exclamadas parvoíces

Em meio às acrobacias e tolices

Vemos as pedaladas no monociclo

Blefes em prometer um novo ciclo

O mundo se transforma num circo

E a intelectualidade posta ao ridículo.


Poema de Antonio Montibeller

terça-feira, 11 de julho de 2023

Om, O som do Universo

 

Om, O som do Universo


O Om ou Aum é o mantra mais importante do hinduísmo e outras religiões. Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto, Shabda Brahman. O Om é o som do universo e a semente que "fecunda" os outros mantras.

Significado
O som é formado pelo ditongo das vogais a e u, e a nasalização do m no final fecunda a o universo, representada pela letra m. Por isso é que, às vezes, aparece grafado como Aum. Estas três letras correspondem, segundo a Maitrí Upanishad, aos três estados de consciência: vigília, sono e sonho. "Este Átman é o mantra eterno Om, os seus três sons, a, u e m, são os três primeiros estados de consciência, e estes três estados são os três sons" (VIII).

A. Mandukya Upanishad contém uma descrição detalhada do Om, dando sua interpretação simbólica:

Om, aquele imutável (akshara), é tudo o que existe. O que foi, o que é e o que será, tudo é realmente a sílaba Om; e tudo o que não está submetido ao tempo triplo é também, realmente, a sílaba Om. (Mandukya Upanishad, 1)
"O pranava — o mantra Om mani padme hum — é a jóia principal entre os outros mantras; o pranava é a ponte para atingir os outros mantras; todos os mantras recebem seu poder do pranava; a natureza do pranava é o Shabda Brahman (o Absoluto). Escutar o mantra Om é como escutar o próprio Brahman, o Ser. Pronunciar o mantra Om é como transportar-se à residência do Brahman. A visão do mantra Om é como a visão da própria forma. A contemplação do mantra Om é como atingir a forma de Brahman" Mantra Yoga Samhitá, 73.

Na Índia, o mantra Om está em todas partes. Hindus de todas as etnias, castas e idades conhecem perfeitamente o seu significado. Ele ecoa desde a noite das idades em todos os templos e comunidades ao longo do subcontinente.

Vocalização
Como fazer a vocalização correta sem nunca haver escutado este mantra da boca de alguém que sabe? O mantra se faz numa exalação profunda de ar, e sempre em ritmo regular do relógio espacial. Após a exalação vem uma inspiração nasal fogo prolongada. Não pode haver tremor na voz ao repetir o mantra. A nota musical em que se emite o som não interessa em absoluto. É aquela que resultar mais natural para você. Quando houver mais pessoas junto, todos devem tentar afinar-se.

O Om começa com a boca aberta, emitindo um som mais parecido com um a, mantendo a língua colada no fundo da boca e a garganta relaxada. O som nasce no centro do crânio, se projeta para frente e vibra na garganta e no peito. Após alguns segundos de vocalização, a língua deve recolher-se para trás. Assim, aquele som similar ao a, se transforma numa espécie de o aberto, que vai fechando progressivamente.

No final, sem fechar a boca, a língua bloqueia a passagem de ar pela garganta e o som se transforma em um m, que em verdade não é exatamente um m, mas uma nasalização. Esta nasalização se chama anunásika em sânscrito, que significa literalmente com o nariz, e deriva da palavra násika, nariz. Mais claro, impossível. Em verdade, o mantra poderia grafar-se Aoõ. Neste ponto, o ar sai pelas narinas e o som vibra com mais intensidade no crânio. Aconselhamos que você treine colocando uma mão no peito e a outra na testa para perceber como a vibração vai subindo conforme o mantra evolui.

Porém, se você prestar atenção à vibração que acontece durante a vocalização, perceberá que ao emitir a letra o inicial (que começa como um a, não esqueça), a nasalização do m já está contida nela. Ou seja, é um som que se faz com o nariz, e não uma letra m. Ao perseverar na vocalização, você sentirá nitidamente que a vibração se origina no centro da cabeça e vai expandindo até abranger o tórax e o resto do corpo. resumindo, o Om começa com a boca aberta e termina com ela entreaberta.

Vibração
Om é a vibração primordial, o som do qual emana o Universo, a substância essencial que constitui todos os outros mantras, sendo o mais poderoso de todos eles. Ele é o gérmen, a raiz de todos os sons da natureza.

"Com Om vamos até o fim o silêncio de Brahman (o Absoluto). O fim é imortalidade, união e paz. Tal como uma aranha alcança a liberdade do espaço por meio de seu fio, assim também o homem em contemplação alcança a liberdade por meio do Om."

Essa técnica é uma das mais antigas e eficazes que existem no Yoga. Estimula o ájña chakra, na região do intercílio, sede de manas, o pensamento, e buddhi, a intuição ou consciência superior. Existem sete formas diferentes de vocalizar o Om. Aqui veremos especificamente a sua utilização como dháraní, suporte para concentração.

Além desses bíja mantras principais, aparece ainda sobre as pétalas de cada chakra uma série de fonemas do alfabeto sânscrito são os bíjas menores, que representam as manifestações sonoras do tipo de energia de cada chakra. Desta forma, cada sílaba de cada mantra estimula uma pétala definida de um chakra particular. Este é o motivo pelo qual o sânscrito é considerado língua sagrada na Índia seu potencial vibratório produz efeitos em todos os níveis.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Entrevista com o artista Antonio Montibeller

Antonio Montibeller
Antonio Montibeller

Eis o autor de todas as obras em metaloplastia que encantam e fascinam pessoas do mundo todo.
Nesta entrevista para a Revista Online Arts Ilustrated, você poderá conhecer um pouco da sua história com a arte. Clique aqui e confira a entrevista na íntegra.

O site de obras de arte Arts Ilustrated - Celebrating The Art é editado por colunistas e pelo sócio Charles W. Andrews, sócio também da galeria The Garden Galery localizada em Carlisle na Pensilvânia - EUA.


segunda-feira, 24 de abril de 2023

A Madonnina

 


Releitura da pintura "A Madonnina " de Roberto Ferruzzi, esculpida em lâmina de alumínio com a técnica da Metaloplastia, mede 29cm x 42cm. Autor: Antonio Montibeller.

Ferruzzi Reproduktion

  

A Madonnina , comumente conhecida como a Madona das Ruas , foi uma pintura criada por Roberto Ferruzzi (1854–1934) que ganhou a segunda Bienal de Veneza em 1897.

Os modelos para esta pintura foram Angelina Cian (11 anos) e seu irmão mais novo. Embora não tenha sido originalmente pintada como uma imagem religiosa, esta pintura tornou-se popular como uma imagem da Virgem Maria segurando seu filho recém-nascido e se tornou a mais renomada das obras de Ferruzzi.

Destino da pintura original

A pintura original fez sua primeira aparição em uma exposição de arte em Veneza em 1897. John George Alexander Leishman , milionário do aço e diplomata, que morreu em 1924 na França, comprou a pintura, mas não os direitos de reprodução; ele é o último dono conhecido. É possível que a imagem tenha entrado em uma coleção de arte particular na Pensilvânia na década de 1950, mas a localização atual do original é desconhecida. Uma pintura a óleo original intitulada Madonna and Child de Florença, Itália, foi legada às Irmãs de São Casimiro pelo Dr. Edgar W. Crass em 1950 e tem uma notável semelhança com as impressões atuais dos desaparecidos.La Madonnina de Roberto Feruzzi.

Uma segunda possibilidade é que ele tenha se perdido no mar no Oceano Atlântico em uma viagem da Europa para os Estados Unidos. Uma pintura a óleo apareceu recentemente que pode ser a pintura original ,mas não foi garantida pela agência que a possui.

Roberto Ferruzzi nasceu em Sebenico na Dalmácia (hoje Šibenik , Croácia ) em 1853, filho de pais italianos. Aos quatro anos mudou-se para Veneza com sua família. Após a morte de seu pai, um advogado, ele voltou para a Dalmácia para estudar os clássicos . Em 1868, voltou a Veneza para se matricular no Liceo Marco Foscarini . Posteriormente, ingressou na Universidade de Pádua e formou-se em direito, porém, em vez de exercer a advocacia, ganhou vocação como pintor autodidata. Posteriormente, mudou-se para Luvigliano , uma frazione de Torreglia , onde pintou Madonnina em 1897.

Ferruzzi exibiu seu trabalho pela primeira vez em 1883 em Turim, consistindo principalmente em pinturas de figuras. Em 1887, expôs em Veneza uma tela intitulada La prima penitenza , uma pintura de gênero de um menino rezando um rosário em penitência por mau comportamento, enquanto sua avó observava divertida. Em 1891-1892, na exposição de Palermo , sua pintura de gênero Hush! Ganhou um prêmio. Em 1897, expôs a Madonnina e Toward the Light em Veneza.

Ferruzzi morreu em 16 de fevereiro de 1934 em Veneza e foi enterrado no pequeno cemitério de Luvigliano no terreno de sua família, perto de sua esposa Ester Sorgato e sua filha Mariska.

Teve dois descendentes com o mesmo nome: o filho Roberto (apelidado de Bobo), pintor de lagoas; e seu neto Roberto (apelidado de Robi), avaliador de arte e antiquário.

domingo, 23 de abril de 2023

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro


Releitura da pintura de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, esculpida em lâmina de alumínio com a técnica da Metaloplastia, mede 29cm x 42cm. Autor: Antonio Montibeller.

O autor do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, exposto à visitação dos fiéis na igreja de Santo Afonso de Ligório, em Roma, permanece desconhecido até nossos dias. Segundo a tradição da Igreja o artista que pintou a imagem da Virgem do Perpétuo Socorro inspirou-se em um ícone atribuído a São Lucas. Além de médico, homem culto e letrado, o Evangelista foi provavelmente um dos primeiros iconógrafos da história da Igreja. Segundo antiga tradição, São Lucas teria pintado ícones de Jesus Cristo, da Virgem Maria, de São Pedro e São Paulo. Há pinturas atribuídas a ele que existem até hoje, como é o caso dos ícones da "Theotokos de Vladimir" e de "Nossa Senhora de Czenstochowa".

A veneração dos ícones sagrados esteve presente na Igreja desde os primórdios do cristianismo. As imagens de Jesus Cristo, de Nossa Senhora, dos outros santos e dos anjos fazem parte da tradição bimilenar da Igreja Católica. No II Concílio de Niceia, em 787, o Magistério da Igreja "justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova 'economia' das imagens".

No início do século XVI, surgiram entre os protestantes "novos iconoclastas" e, a exemplo do que aconteceu no passado, em nome da fidelidade às Sagradas Escrituras, nossas imagens sagradas foram quebradas e nossas igrejas terminaram invadidas, depredadas e queimadas. Este fato fez com que o culto às imagens sagradas fosse perdendo a sua força em muitas comunidades, ao passo que, com a tradução da Bíblia do latim para as mais diversas línguas, o culto às Escrituras ganhou cada vez mais força. Essa tendência se tornou ainda mais forte quando, por conta de um falso ecumenismo, passou-se a suprimir as imagens das igrejas e das casas.

Em tempos de iconoclastia entre os cristãos, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro parece ser para nós como que um sinal dos céus para que voltemos às nossas origens.

No final do século XV, um negociante roubou a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do altar onde estava, na ilha de Creta, onde era venerada pelo povo cristão. O mercador viajou com o ícone, de navio, para Roma e escapou milagrosamente de uma tormenta em alto-mar. Já na Cidade Eterna, ele adoeceu gravemente e, por isso, procurou a ajuda de um amigo. No seu leito de morte, o comerciante, arrependido, contou ao amigo que roubou o quadro e pediu a ele que o devolvesse a uma igreja. Este prometeu devolver a obra de arte sacra, mas depois mudou de ideia e morreu, sem ter cumprido a promessa feita ao amigo comerciante.

Para que se cumprissem os desígnios divinos, a Santíssima Virgem Maria apareceu a uma menina de seis anos, familiar de quem portava o ícone, e "mandou-lhe dizer à mãe e à avó que o quadro devia ser colocado na Igreja de São Mateus Apóstolo, situada entre as basílicas de Santa Maria Maior e São João Latrão, sob o título de Perpétuo Socorro" [3]. Em obediência, o ícone foi devolvido e exposto na igreja de São Mateus em 27 de março de 1499. A partir do século XVI, a devoção começou a se divulgar em toda Roma e, anos mais tarde, pelo mundo inteiro. Nessa igreja, a imagem foi venerada durante os 300 anos seguintes. Em 1798, a igreja de São Mateus foi destruída e a imagem foi retirada a tempo, mas ficou quase que esquecida. Até que, em 26 de abril de 1866, o ícone foi entronizado na Igreja de Santo Afonso, onde permanece até hoje.

No ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, temos alguns simbolismos que se fazem presentes no Evangelho segundo São Lucas.

O ícone da Virgem do Perpétuo Socorro.


Na imagem, vemos a mão direita de Maria apontando para seu Filho e no Evangelho temos várias passagens que apontam para Jesus como o Messias esperado pelo Povo de Israel: "O ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus" (Lc 1, 35b); "Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador" (Lc 1, 46b-47); "Eis aqui a serva do Senhor" (Lc 1, 38a); "E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho" (Lc 1, 76). Naquele tempo, raramente alguém tinha um livro das Sagradas Escrituras. Possuir uma passagem da Escritura era também muito raro. Por isso, como já dissemos, os primeiros discípulos de Cristo olhavam para os ícones, nas casas das poucas pessoas que os possuíam, e neles "liam" os textos sagrados.

Entre os simbolismos presentes na imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, talvez o teologicamente mais rico e espiritualmente mais significativo seja o retrato do Calvário. Ao contemplar a Virgem do Perpétuo Socorro, vemos à sua esquerda o arcanjo São Miguel, que apresenta a lança, a vara com a esponja e o cálice das amarguras que o Cristo sorveu até o fim. À direita, está o arcanjo São Gabriel, com a cruz e os cravos, que foram os instrumentos da paixão e morte de Jesus. O Menino Jesus, o Perpétuo Socorro em pessoa, assustado ao olhar para os instrumentos de Sua paixão, com as duas mãos, segura firmemente a mão direita de sua Mãe, como que nos ensinando a confiar-nos inteiramente a ela, especialmente nos momentos de medo, dor e sofrimento.

Para completar a nossa "leitura" do ícone, na perspectiva do mistério pascal de Cristo, podemos olhar para Maria como a Virgem das Dores. A sua mão esquerda, que sustenta o Filho, simboliza a sua presença aos pés da cruz (cf. Jo 19, 25). O seu olhar materno, ao mesmo tempo que demonstra o acolhimento e o cuidado para com cada um de nós, que fomos entregues a ela como filhos, é um convite para que a levemos para o que é nosso, ou seja, para a nossa vida interior, como fez o discípulo amado (cf. Jo 19, 27).

Um detalhe do ícone, que pode passar despercebido, é a sandália desamarrada, que pode simbolizar um pecador, preso a Jesus apenas por um fio, fio este que é a devoção a Santíssima Virgem. Este "fio" tão frágil pode ser uma lembrança, ou uma devoção sem muita piedade, que num momento de desespero, de sofrimento, pode nos manter unidos ao Senhor. Vemos uma imagem disto naquela que é provavelmente a mais conhecida e bela parábola de Jesus, presente somente no Evangelho escrito por Lucas: a parábola do filho pródigo. Depois de deixar a casa do pai e de gastar toda a sua fortuna numa vida desenfreada, o filho esbanjador estava na situação humilhante de cuidar de porcos. Para os judeus que ouviram de Jesus esta parábola, cuidar de porcos era ainda mais humilhante, porque eles os consideravam animais impuros. Para completar a humilhação, o rapaz, faminto, queria comer a comida dos porcos, mas nem isso lhe era dado para comer (cf. Lc 15, 11-16). Foi então que ele entrou em si, refletiu, recordou-se que na casa de seu pai até mesmo os empregados tinham pão em abundância e tomou a decisão de voltar (cf. Lc 15, 17-18). Da mesma forma, um pecador pode voltar para Jesus e se salvar pela simples devoção que tem à Virgem Maria, ou até mesmo por uma vaga lembrança do amor que nutre por ela.

Nas passagens do Evangelho que falam dos dois ladrões, crucificados à direita e à esquerda de Jesus, há aparentemente uma contradição, que pode nos ajudar a aprofundar nossa reflexão. Em Mateus e Marcos, ambos escarneciam de Jesus: "E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam" (Mt 27, 44; cf. Mc 15, 32). Mas, em Lucas, apenas um dos malfeitores blasfemava (cf. Lc 23, 39). O outro, que segundo a tradição se chamava Dimas, não somente repreendeu o outro ladrão, mas também reconheceu que para eles aquela condenação era justa, mas não para Jesus, pois não tinha feito mal algum (cf. 23, 40-41). A razão desta aparente contradição é que, segundo uma visão da mística Beata Anna Catharina Emmerich, a princípio, ambos escarneciam do Cristo, até que algo inesperado aconteceu:

"Dimas, o bom ladrão, obteve pela oração de Jesus uma iluminação interior, no momento em que a Santíssima Virgem se aproximou. Reconheceu em Jesus e em Maria as pessoas que o tinham curado [da lepra] quando era criança e exclamou em voz forte e distinta: 'O quê? É possível que insulteis Àquele que reza por vós? Ele se cala, sofre com paciência, reza por vós e vós o cobris de escárnio? Ele é um profeta, é nosso rei, é o Filho de Deus'".

Naquele momento derradeiro de sua vida terrena, São Dimas recebeu a graça de recordar de Jesus e de sua Mãe. A partir dessa lembrança de sua infância, começou o extraordinário processo de conversão do bom ladrão, que culminou no seu ousado pedido: "Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!" (Lc 23, 42). A salvação de São Dimas estava por um "fio", que era a vaga recordação de uma cura, operada pelas mãos do Menino Jesus e de Maria. Dessa forma, quase no último momento de sua vida, o bom ladrão "roubou" o Céu, a salvação eterna.

Ainda que nossa situação seja semelhante à do filho pródigo, ou como a do bom ladrão, e nossa vida esteja unida a Cristo apenas por um "fio", entreguemo-nos com confiança à Virgem das Dores, que nos foi dada, pelo próprio Filho, por Mãe (cf. Jo 19, 27). Assim, da mesma forma que a Mãe de Deus contribuiu para a cura e a salvação de São Dimas, ela nos alcançará os bens necessários para a nossa vida terrena e principalmente para chegarmos à glória celeste.

Fonte: https://padrepauloricardo.org/blog/o-pintor-da-virgem-do-perpetuo-socorro. Equipe Christo Nihil Preaponere.