segunda-feira, 24 de abril de 2023

A Madonnina

 


Releitura da pintura "A Madonnina " de Roberto Ferruzzi, esculpida em lâmina de alumínio com a técnica da Metaloplastia, mede 29cm x 42cm. Autor: Antonio Montibeller.

Ferruzzi Reproduktion

  

A Madonnina , comumente conhecida como a Madona das Ruas , foi uma pintura criada por Roberto Ferruzzi (1854–1934) que ganhou a segunda Bienal de Veneza em 1897.

Os modelos para esta pintura foram Angelina Cian (11 anos) e seu irmão mais novo. Embora não tenha sido originalmente pintada como uma imagem religiosa, esta pintura tornou-se popular como uma imagem da Virgem Maria segurando seu filho recém-nascido e se tornou a mais renomada das obras de Ferruzzi.

Destino da pintura original

A pintura original fez sua primeira aparição em uma exposição de arte em Veneza em 1897. John George Alexander Leishman , milionário do aço e diplomata, que morreu em 1924 na França, comprou a pintura, mas não os direitos de reprodução; ele é o último dono conhecido. É possível que a imagem tenha entrado em uma coleção de arte particular na Pensilvânia na década de 1950, mas a localização atual do original é desconhecida. Uma pintura a óleo original intitulada Madonna and Child de Florença, Itália, foi legada às Irmãs de São Casimiro pelo Dr. Edgar W. Crass em 1950 e tem uma notável semelhança com as impressões atuais dos desaparecidos.La Madonnina de Roberto Feruzzi.

Uma segunda possibilidade é que ele tenha se perdido no mar no Oceano Atlântico em uma viagem da Europa para os Estados Unidos. Uma pintura a óleo apareceu recentemente que pode ser a pintura original ,mas não foi garantida pela agência que a possui.

Roberto Ferruzzi nasceu em Sebenico na Dalmácia (hoje Šibenik , Croácia ) em 1853, filho de pais italianos. Aos quatro anos mudou-se para Veneza com sua família. Após a morte de seu pai, um advogado, ele voltou para a Dalmácia para estudar os clássicos . Em 1868, voltou a Veneza para se matricular no Liceo Marco Foscarini . Posteriormente, ingressou na Universidade de Pádua e formou-se em direito, porém, em vez de exercer a advocacia, ganhou vocação como pintor autodidata. Posteriormente, mudou-se para Luvigliano , uma frazione de Torreglia , onde pintou Madonnina em 1897.

Ferruzzi exibiu seu trabalho pela primeira vez em 1883 em Turim, consistindo principalmente em pinturas de figuras. Em 1887, expôs em Veneza uma tela intitulada La prima penitenza , uma pintura de gênero de um menino rezando um rosário em penitência por mau comportamento, enquanto sua avó observava divertida. Em 1891-1892, na exposição de Palermo , sua pintura de gênero Hush! Ganhou um prêmio. Em 1897, expôs a Madonnina e Toward the Light em Veneza.

Ferruzzi morreu em 16 de fevereiro de 1934 em Veneza e foi enterrado no pequeno cemitério de Luvigliano no terreno de sua família, perto de sua esposa Ester Sorgato e sua filha Mariska.

Teve dois descendentes com o mesmo nome: o filho Roberto (apelidado de Bobo), pintor de lagoas; e seu neto Roberto (apelidado de Robi), avaliador de arte e antiquário.

domingo, 23 de abril de 2023

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro


Releitura da pintura de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, esculpida em lâmina de alumínio com a técnica da Metaloplastia, mede 29cm x 42cm. Autor: Antonio Montibeller.

O autor do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, exposto à visitação dos fiéis na igreja de Santo Afonso de Ligório, em Roma, permanece desconhecido até nossos dias. Segundo a tradição da Igreja o artista que pintou a imagem da Virgem do Perpétuo Socorro inspirou-se em um ícone atribuído a São Lucas. Além de médico, homem culto e letrado, o Evangelista foi provavelmente um dos primeiros iconógrafos da história da Igreja. Segundo antiga tradição, São Lucas teria pintado ícones de Jesus Cristo, da Virgem Maria, de São Pedro e São Paulo. Há pinturas atribuídas a ele que existem até hoje, como é o caso dos ícones da "Theotokos de Vladimir" e de "Nossa Senhora de Czenstochowa".

A veneração dos ícones sagrados esteve presente na Igreja desde os primórdios do cristianismo. As imagens de Jesus Cristo, de Nossa Senhora, dos outros santos e dos anjos fazem parte da tradição bimilenar da Igreja Católica. No II Concílio de Niceia, em 787, o Magistério da Igreja "justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova 'economia' das imagens".

No início do século XVI, surgiram entre os protestantes "novos iconoclastas" e, a exemplo do que aconteceu no passado, em nome da fidelidade às Sagradas Escrituras, nossas imagens sagradas foram quebradas e nossas igrejas terminaram invadidas, depredadas e queimadas. Este fato fez com que o culto às imagens sagradas fosse perdendo a sua força em muitas comunidades, ao passo que, com a tradução da Bíblia do latim para as mais diversas línguas, o culto às Escrituras ganhou cada vez mais força. Essa tendência se tornou ainda mais forte quando, por conta de um falso ecumenismo, passou-se a suprimir as imagens das igrejas e das casas.

Em tempos de iconoclastia entre os cristãos, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro parece ser para nós como que um sinal dos céus para que voltemos às nossas origens.

No final do século XV, um negociante roubou a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do altar onde estava, na ilha de Creta, onde era venerada pelo povo cristão. O mercador viajou com o ícone, de navio, para Roma e escapou milagrosamente de uma tormenta em alto-mar. Já na Cidade Eterna, ele adoeceu gravemente e, por isso, procurou a ajuda de um amigo. No seu leito de morte, o comerciante, arrependido, contou ao amigo que roubou o quadro e pediu a ele que o devolvesse a uma igreja. Este prometeu devolver a obra de arte sacra, mas depois mudou de ideia e morreu, sem ter cumprido a promessa feita ao amigo comerciante.

Para que se cumprissem os desígnios divinos, a Santíssima Virgem Maria apareceu a uma menina de seis anos, familiar de quem portava o ícone, e "mandou-lhe dizer à mãe e à avó que o quadro devia ser colocado na Igreja de São Mateus Apóstolo, situada entre as basílicas de Santa Maria Maior e São João Latrão, sob o título de Perpétuo Socorro" [3]. Em obediência, o ícone foi devolvido e exposto na igreja de São Mateus em 27 de março de 1499. A partir do século XVI, a devoção começou a se divulgar em toda Roma e, anos mais tarde, pelo mundo inteiro. Nessa igreja, a imagem foi venerada durante os 300 anos seguintes. Em 1798, a igreja de São Mateus foi destruída e a imagem foi retirada a tempo, mas ficou quase que esquecida. Até que, em 26 de abril de 1866, o ícone foi entronizado na Igreja de Santo Afonso, onde permanece até hoje.

No ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, temos alguns simbolismos que se fazem presentes no Evangelho segundo São Lucas.

O ícone da Virgem do Perpétuo Socorro.


Na imagem, vemos a mão direita de Maria apontando para seu Filho e no Evangelho temos várias passagens que apontam para Jesus como o Messias esperado pelo Povo de Israel: "O ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus" (Lc 1, 35b); "Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador" (Lc 1, 46b-47); "Eis aqui a serva do Senhor" (Lc 1, 38a); "E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho" (Lc 1, 76). Naquele tempo, raramente alguém tinha um livro das Sagradas Escrituras. Possuir uma passagem da Escritura era também muito raro. Por isso, como já dissemos, os primeiros discípulos de Cristo olhavam para os ícones, nas casas das poucas pessoas que os possuíam, e neles "liam" os textos sagrados.

Entre os simbolismos presentes na imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, talvez o teologicamente mais rico e espiritualmente mais significativo seja o retrato do Calvário. Ao contemplar a Virgem do Perpétuo Socorro, vemos à sua esquerda o arcanjo São Miguel, que apresenta a lança, a vara com a esponja e o cálice das amarguras que o Cristo sorveu até o fim. À direita, está o arcanjo São Gabriel, com a cruz e os cravos, que foram os instrumentos da paixão e morte de Jesus. O Menino Jesus, o Perpétuo Socorro em pessoa, assustado ao olhar para os instrumentos de Sua paixão, com as duas mãos, segura firmemente a mão direita de sua Mãe, como que nos ensinando a confiar-nos inteiramente a ela, especialmente nos momentos de medo, dor e sofrimento.

Para completar a nossa "leitura" do ícone, na perspectiva do mistério pascal de Cristo, podemos olhar para Maria como a Virgem das Dores. A sua mão esquerda, que sustenta o Filho, simboliza a sua presença aos pés da cruz (cf. Jo 19, 25). O seu olhar materno, ao mesmo tempo que demonstra o acolhimento e o cuidado para com cada um de nós, que fomos entregues a ela como filhos, é um convite para que a levemos para o que é nosso, ou seja, para a nossa vida interior, como fez o discípulo amado (cf. Jo 19, 27).

Um detalhe do ícone, que pode passar despercebido, é a sandália desamarrada, que pode simbolizar um pecador, preso a Jesus apenas por um fio, fio este que é a devoção a Santíssima Virgem. Este "fio" tão frágil pode ser uma lembrança, ou uma devoção sem muita piedade, que num momento de desespero, de sofrimento, pode nos manter unidos ao Senhor. Vemos uma imagem disto naquela que é provavelmente a mais conhecida e bela parábola de Jesus, presente somente no Evangelho escrito por Lucas: a parábola do filho pródigo. Depois de deixar a casa do pai e de gastar toda a sua fortuna numa vida desenfreada, o filho esbanjador estava na situação humilhante de cuidar de porcos. Para os judeus que ouviram de Jesus esta parábola, cuidar de porcos era ainda mais humilhante, porque eles os consideravam animais impuros. Para completar a humilhação, o rapaz, faminto, queria comer a comida dos porcos, mas nem isso lhe era dado para comer (cf. Lc 15, 11-16). Foi então que ele entrou em si, refletiu, recordou-se que na casa de seu pai até mesmo os empregados tinham pão em abundância e tomou a decisão de voltar (cf. Lc 15, 17-18). Da mesma forma, um pecador pode voltar para Jesus e se salvar pela simples devoção que tem à Virgem Maria, ou até mesmo por uma vaga lembrança do amor que nutre por ela.

Nas passagens do Evangelho que falam dos dois ladrões, crucificados à direita e à esquerda de Jesus, há aparentemente uma contradição, que pode nos ajudar a aprofundar nossa reflexão. Em Mateus e Marcos, ambos escarneciam de Jesus: "E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam" (Mt 27, 44; cf. Mc 15, 32). Mas, em Lucas, apenas um dos malfeitores blasfemava (cf. Lc 23, 39). O outro, que segundo a tradição se chamava Dimas, não somente repreendeu o outro ladrão, mas também reconheceu que para eles aquela condenação era justa, mas não para Jesus, pois não tinha feito mal algum (cf. 23, 40-41). A razão desta aparente contradição é que, segundo uma visão da mística Beata Anna Catharina Emmerich, a princípio, ambos escarneciam do Cristo, até que algo inesperado aconteceu:

"Dimas, o bom ladrão, obteve pela oração de Jesus uma iluminação interior, no momento em que a Santíssima Virgem se aproximou. Reconheceu em Jesus e em Maria as pessoas que o tinham curado [da lepra] quando era criança e exclamou em voz forte e distinta: 'O quê? É possível que insulteis Àquele que reza por vós? Ele se cala, sofre com paciência, reza por vós e vós o cobris de escárnio? Ele é um profeta, é nosso rei, é o Filho de Deus'".

Naquele momento derradeiro de sua vida terrena, São Dimas recebeu a graça de recordar de Jesus e de sua Mãe. A partir dessa lembrança de sua infância, começou o extraordinário processo de conversão do bom ladrão, que culminou no seu ousado pedido: "Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!" (Lc 23, 42). A salvação de São Dimas estava por um "fio", que era a vaga recordação de uma cura, operada pelas mãos do Menino Jesus e de Maria. Dessa forma, quase no último momento de sua vida, o bom ladrão "roubou" o Céu, a salvação eterna.

Ainda que nossa situação seja semelhante à do filho pródigo, ou como a do bom ladrão, e nossa vida esteja unida a Cristo apenas por um "fio", entreguemo-nos com confiança à Virgem das Dores, que nos foi dada, pelo próprio Filho, por Mãe (cf. Jo 19, 27). Assim, da mesma forma que a Mãe de Deus contribuiu para a cura e a salvação de São Dimas, ela nos alcançará os bens necessários para a nossa vida terrena e principalmente para chegarmos à glória celeste.

Fonte: https://padrepauloricardo.org/blog/o-pintor-da-virgem-do-perpetuo-socorro. Equipe Christo Nihil Preaponere.